Editorial

O investimento é fundamental para impulsionar o desenvolvimento de África e alcançar a Agenda 2063 da União Africana e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. No entanto, as crises mundiais aumentaram o défice de financiamento sustentável do continente africano. Em 2020, a diferença entre o financiamento necessário para alcançar os ODS e os recursos disponíveis aumentou 36 %, para 272 mil milhões USD por ano, o equivalente a 11 % do PIB do continente. Apesar do forte crescimento, o investimento global desviou o foco do continente. O investimento direto estrangeiro (IDE) diminuiu de 12 % do total mundial em 2017 para menos de 6 % em 2021 – em comparação com 15 % para a Ásia em desenvolvimento e 10 % para a América Latina e Caraíbas.

O investimento sustentável reduzido constitui um paradoxo, face ao elevado número de oportunidades. Como última fronteira de investimento do mundo, o continente detém ativos únicos que deveriam atrair mais investimento para impulsionar atividades transformadoras e sustentáveis. Vejamos o setor da energia. África possui 60 % dos melhores recursos solares do mundo, mas apenas 1 % da capacidade de produção solar instalada. 43 % da sua população – 600 milhões de pessoas – ainda não tem acesso à eletricidade. Com 25 % da população mundial a residir em África em 2050, o mundo tem de investir melhor na juventude africana, para concretizar plenamente as oportunidades relevantes que o Continente apresenta.

O que está a atrasar o investimento no continente? O relatório conjunto Dinâmicas do Desenvolvimento em África 2023 identifica duas condicionantes que afetam mais África do que outras regiões do mundo: a reduzida confiança dos investidores e os elevados custos de capital. Em momentos de incerteza, os investidores estão mais atentos aos riscos macroeconómicos e políticos, como a previsibilidade das políticas e a capacidade de regulamentação. A escassez de mão de obra qualificada e de infraestruturas de qualidade podem dificultar o investimento, nomeadamente nos setores orientados para as tecnologias, ou nos quais é necessário um elevado investimento inicial. O ceticismo dos investidores resulta numa incongruência: o continente africano apresenta as taxas de incumprimento mais baixas do mundo em matéria de infraestruturas, mas a maioria dos projetos não é financiada.

Melhores políticas podem transformar os desafios em oportunidades. A nossa análise destaca três prioridades. Em primeiro lugar, dados adequados apoiarão decisões de investimento fundamentadas, alinhando melhor as perceções de risco com a realidade. Muitos investidores suspendem decisões devido à recolha insuficiente, ou dispendiosa, de informações. Em segundo lugar, as parcerias lideradas por africanos podem otimizar os impactos do financiamento sustentável no desenvolvimento e catalisar melhor os investimentos para atividades locais sustentáveis. O aprofundamento e a integração dos mercados de capitais nacionais, o desenvolvimento de obrigações em moeda local e o reforço da conformidade ESG (Ambiente, Social e Governação) podem fazer parte da solução. Em terceiro lugar, aprofundar mais a integração africana, nomeadamente através da implementação da Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA) e do seu protocolo relativo ao investimento, harmonizará as políticas entre os países e facilitará o desenvolvimento das cadeias de valor.

A crescente parceria entre a Comissão da União Africana e a OCDE, através do Centro de Desenvolvimento, proporciona um importante meio para informar narrativas globais sobre a África e trazer o continente africano da periferia para o centro do investimento global. Ao alavancar a nossa plataforma de diálogo político sobre investimento e transformação produtiva em África, estamos empenhados em trabalhar em conjunto para acompanhar as tendências e identificar boas práticas no continente que mobilizem um maior investimento para o desenvolvimento sustentável e a criação de emprego. Estamos orgulhosos pelo facto de este relatório conjunto, agora na sua quinta edição, contribuir reforçar parcerias globais e para um diálogo político eficaz que beneficia o continente africano.

 

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Moussa Faki Mahamat

Presidente

Comissão da União Africana

 

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Mathias Cormann

Secretário-Geral

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

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